Um dos idealizadores da Caixa de Saúde, Raimundo Nonato possui história que se mistura com o desenvolvimento político de São Vicente

Foi candidato a vereador, escriturário, tesoureiro da Prefeitura, jogador de futebol e diretor de escolas de samba; quem é seu Raimundo?  

“E o salário óh!”. Essa é uma das frases mais icônicas de Raimundo Nonato, professor da tradicional e conhecida “Escolinha do Professor Raimundo”. Mas, São Vicente também possui um Nonato bem conhecido. Aliás, um Raimundo Nonato bastante conhecido.

À direita, seu Raimundo Nonato, personagem desta matéria. À esquerda, doutor Márcio Rebuá, superintendente da Caixa de Saúde e Pecúlio – Foto: Raimundo Nonato

E a coincidência não para só no nome, mas ambos nasceram no Ceará. O vicentino é natural de Quixadá, sertão do Estado, por outro lado, o professor, em Maranguape (150 km de distância). “Eu me sinto, na verdade, vicentino mesmo. Eu nasci no Ceará e logo minha família se deslocou para a Baixada Santista, aqui para São Vicente. Meu registro foi feito aqui e toda minha vida foi vivida aqui”.

Mas, as semelhanças com o professor cessam por aí. Diferente dele, o Nonato vicentino buscou lutar pelos direitos mais ativamente. Nas veias dele sempre correu a determinação e a busca por direitos e melhorias à população. Desde jovem, esteve presente em cenários de reivindicações, principalmente pelos bairros Pompeba e Tancredo.

“Sou atuante desde 1962 em São Vicente, como servidor. Trabalhei como Tesoureiro e Oficial Administrativo até me aposentar, em 1992”, explica ele.

Da década de 60 pra cá, seu Nonato disputou diversos cargos políticos. Duas eleições foram marcantes em sua carreira. Em 1972, lançou candidatura a vereador, classificando-se em 7º lugar entre os suplentes, pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), com 536 votos.

Em 88, novamente, ele tentou um cargo na Primeira Câmara das Américas. Seu desempenho rendeu o 4º lugar entre os suplentes, pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), recebendo 238 votos.

“Foram duas votações expressivas que tive. A ideia era levar as necessidades da minha comunidade para a Casa de Leis, com a intenção de trazer melhorias e recursos para a região. Bati na trave duas vezes, mas ainda sim, me tornei servidor e contribui muito com o desenvolvimento de São Vicente, em especial o econômico”, comenta Raimundo.

Sindicalismo

“Sempre prezei pelo bom ambiente de trabalho dos servidores e minha contribuição foi, além de me candidatar, participar ativamente de cobranças por melhorias nas condições de trabalho e de salário”, explica ele.

Em 96, Nonato candidatou-se a vice-presidente pela chapa 2 “Resgate da Dignidade”. A meta era trazer à tona os anseios e buscar dar voz ativa aos servidores, comprometendo-se a se emprenhar na implantação do Plano de Cargos e Carreiras e a reformulação salarial para acompanhar a tendência do mercado (o piso da categoria, à época, era de R$ 161,00). “A situação do pessoal é ruim, e para o aposentado era pior, pois não contava com hora extra, vale refeição ou transporte”, explica ele.

Reunião de Raimundo Nonato com Alfredo Moura – Foto: Raimundo Nonato

Em 82, a chapa pela qual ele estava concorrendo ganhou a eleição para a nova diretoria da Associação dos Servidores Municipais de São Vicente, assumindo o cargo de 1º tesoureiro. “Entramos com a meta de buscar reajustes salarias e lutas semestrais para o funcionalismo”.

Além disso, em outras oportunidades, também disputou a candidatura ao Sindicato dos Servidores, ambas pela chapa 1. Em 2002, na chapa “Ética e Trabalho”, seu Nonato foi como Conselheiro Fiscal. Já em 2012, pela “Força do Servidor”, fez parte do Conselho de Representantes.

Lutas e conquistas pela comunidade

“Sempre fui voz ativa na luta por direitos para o meu bairro, o Pompeba. Fazia questão de levar as demandas ao Executivo, buscando soluções que beneficiassem a nossa comunidade”, salienta.

Em uma das suas candidaturas à Câmara Vicentina, Raimundo Nonato levou duas demandas em especial ao prefeito da época, que depois, foram concretizadas: um posto policial e a substituição de uma ponte de madeira por uma de concreto.

Entrevista concedida ao Jornal da Tribuna 1ª Edição em frente a Prefeitura de São Vicente – Foto: Raimundo Nonato

Em 75, como integrante da Comissão de Moradores do Jardim Pompeba, programou e executou a “I Manhã de Recreio”, na praça principal do conjunto. O projeto era de integralização da comunidade, com atividades físicas e educativas para mais de 200 crianças, de 2 a 15 anos.

No mesmo ano, em uma comitiva representativa do bairro Pompeba, foi formalizado uma série de reclamações sobre o abandono do poder público junto à comunidade. “Era muita insegurança, escolas deterioradas, vias públicas intransitáveis. Pedíamos melhoramento dessas situações”. Todas as reivindicações eram em benefício coletivo. Muitos desses pedidos foram atendidos e hoje a situação do bairro é “bem melhor”, diz ele.

Reunião em busca de melhorias – Foto: Raimundo Nonato

Ainda em seu currículo, ele contribuiu na organização de duas “festas” em datas comemorativas de impacto no bairro. No dia 10 de outubro, uma extensa programação foi elaborada, que durou o dia inteiro. “Peça teatral de morador de bairro, concertos, apresentação de palhaço, entre outras atrações que animaram o dia das pessoas, além de café, almoço e jantar”, finaliza.

Já no dia dos pais, a comunidade se reuniu novamente, por meio da Comissão de Moradores, liderada por Nonato e o Grupo Artístico Intelectual, para comemorar a data especial. Show da escola de samba Santa Cruz, disputa de dominó, sueca, bilhar e futebol aconteceu durante todo o dia.

Relação com a Caixa de Saúde e Pecúlio

“Eu sou um dos fundadores da Caixa de Saúde”, começa Nonato. Antes de ser criada a Caixa de Previdência e Saúde, foi formada uma comissão no governo municipal do Coronel Machado, que elegeu José Teixeira Mattoso como superintendente do espaço, de 3 de setembro de 1965 a 30 de dezembro de 1972 (assumindo o cargo, novamente, entre 1991 e 1993).

“Eu ajudei na estruturação do lugar, equalizando finanças e conseguindo recursos junto à Prefeitura”, detalha Raimundo. A antiga sede era localizada na Av. Presidente Wilson, logo no começo.

No decorrer dos anos, após constantes investimentos e aumento de demanda, a sede da Caixa de Saúde foi transferida para a Rua Frei Gaspar, 157, onde se encontra até hoje. Pouco tempo depois, mediante Lei Federal, houve o desmembramento da Previdência e o lugar passou a se chamar “Caixa de Saúde e Pecúlio dos Servidores Municipais de São Vicente”, passando a cuidar da saúde do funcionalismo vicentino, com personalidade jurídica própria, de autonomia administrativa e financeira.

E seu Raimundo atualmente?

Matéria do jornal A Tribuna sobre a posse da nova comissão diretora – Foto: Nicolas Pedrosa

Hoje, Raimundo Nonato se dedica aos desafios de comandar a Associação dos Aposentados e Pensionistas da Prefeitura de São Vicente (AAPPMSV), lutando pelos direitos da categoria, assim como fez sua vida inteira. “Não consigo parar, se há pessoas lutando por garantia de direitos, eu quero dar a elas a voz e fazer com que sejam ouvidas e atendidas”. Além disso, Nonato é membro do Conselho de Administração da Caixa de Saúde.

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